Chegou a nota fiscal eletrônica

A nota fiscal eletrônica é um caminho sem volta e não se admite mais um profissional da contabilidade dizer que a utilização de sistemas de informática e a internet são acessíveis apenas para jovens. Quem avisa é o diretor de Tecnologia e Negócios da Fenacon, contador Nivaldo Cleto, que também é membro do Comitê Gestor da Internet do Brasil. Em entrevista ao Jornal do CRCSC, ele garante: "O futuro digital chegou!".

CRC SC - julho/agosto 2006

Jornal do CRCSC - O projeto da Nota Fiscal Eletrônica começou a ser implantado este ano em empresas de grande porte, a exemplo da Sadia, Gerdau e Petrobrás. Como o senhor vê a implantação desse sistema entre as empresas de menor porte e em cidades menores e mais distantes dos grandes centros urbanos?

Nivaldo Cleto - Quando falamos em Nota Fiscal Eletrônica, toda a tecnologia para emissão e envio dos arquivos eletrônicos será realizada através da Internet. Os portais das autoridades tributárias estão publicando todas as informações aos usuários e contribuintes na Web. Portanto, partimos do pressuposto de que - para a internet - distância não conta e que todas as cidades brasileiras têm acesso à rede, quer via dial up, banda larga (ADSL), satélite e/ou via rádio.

É chegada a hora de os profissionais da contabilidade, estabelecidos nas localidades mais distantes deste País, procurarem as entidades de classe e associações, para obter informações e se capacitarem para aderir ao novo tempo da Contabilidade sem Papel.

Jornal do CRCSC - O prazo de adaptação à nova realidade é adequado na sua avaliação?

Cleto - Na cidade de São Paulo, desde agosto de 2006, as empresas prestadoras de serviços, com faturamento acima de R$ 20.000,00 por mês, estão obrigadas a emitir a Nota Fiscal Eletrônica de Serviços. A Prefeitura deu apenas dois meses de prazo para os prestadores de serviços se adaptarem. Está sendo um

choque cultural e uma quebra de paradigma violenta para os cidadãos, empresários e profissionais. Já o Governo Federal, através do Sistema Público de Escrituração Digital - SPED, está implementando a NF-e de forma bem mais suave. Dará o tempo suficiente para os contribuintes migrarem os seus sistemas de emissão de notas fiscais para o meio digital. As próprias empresas que fazem parte do Projeto Piloto já estão solicitando aos seus fornecedores (englobam micro, pequenos e médios empresários) para implementarem a NF-e. Buscam, assim, agilizar ainda mais o processo operacional de lançamentos fiscais e garantir maior confiabilidade, já que os meios eletrônicos têm mostrado maior eficiência operacional e menor risco de fraudes e erros de lançamento.

Jornal do CRCSC - A Nota Fiscal Eletrônica exigirá uma mudança no perfil do contabilista? Em caso afirmativo, quais as qualidades que esse profissional deverá possuir?

Cleto - A mudança de perfil não se dará apenas pela implementação da NF-e. Em breve o profissional estará enviando ao Fisco a escrituração contábil digital, registrada na Junta Comercial, num Livro Diário Eletrônico. Isso, juntamente com os Livros Fiscais Eletrônicos, que hoje são enviados através do sistema do Sintegra. Todas essas obrigações estão sendo regulamentadas através de um grupo formado pelas autoridades tributárias em todos os níveis, denominado SPED -Sistema Público de Escrituração Digital. 0 "Novo Profissional da Contabilidade da Era Digital" deverá possuir conhecimentos adequados dos sistemas de informação, tornando-se um usuário assíduo da tecnologia de ponta, principalmente dos serviços disponibilizados na internet. Nada, entretanto, que uma pessoa de inteligência normal, movida de boa-vontade, não possa conquistar com esforço e persistência razoáveis.

Não dá mais é para admitir um profissional - escondendo o sol com uma peneira - dizer que a utilização de sistemas de informática e internet são acessíveis apenas para jovens. Se esses profissionais persistirem no equívoco de não se enquadrarem no seu tempo, serão forçados a mudar de ramo, se aposentar ou, infelizmente, serão "deletados" do mercado de trabalho.

Jornal do CRCSC - Qual o papel de entidades contábeis, como os CRCs, na implantação desse projeto?

Cleto - As entidades contábeis, bem como os CRCs, deverão desde já criar um programa de capacitação tecnológica para os profissionais. Disseminar, através de videoconferências na web, teleconferências, palestras e nos portais as informações necessárias para essa mudança radical da era papel para a era digital. É um caminho sem volta. O futuro digital chegou! E, convenhamos, é mil vezes melhor que o velho mundo burocrático, com sua papelada inútil. Alguém discorda?

Jornal do CRCSC - Efetivamente, o senhor acredita que a NF-e mexe na burocracia fiscal, reduzindo o excessivo número de obrigações acessórias que hoje pesa sobre o contabilista?

Cleto - Não há dúvidas que a implementação da NF-e em conjunto com as demais obrigações que estão sendo implementadas pelo SPED, têm como principal objetivo diminuir as obrigações acessórias, evitar o re-trabalho, reduzir o tempo improdutivo gasto com papeladas que nada agregam ao conhecimento dos cidadãos.

Os "Novos Profissionais da Era Digital" deverão pensar em mudança de foco. Evoluir de um mero fazedor de guias e lançador de papéis e fichas, para um consultor na gestão dos negócios de seus clientes. Seu conhecimento, sua experiência e sabedoria são dons a serem aplicados para gerar lucros para as empresas, racionalidade para as organizações e riquezas para o nosso País.

Jornal do CRCSC - Em quanto tempo o senhor acredita que a NF-e se tornará realidade para a maioria das empresas brasileiras?

Cleto - Entendo que a própria cadeia produtiva se encarregará de uma forma natural de implementar esse sistema, pois se as grandes empresas começarem a exigir de seus fornecedores uma adaptação tecnológica para utilização de uma mesma linguagem digital, a migração será mais rápida do que o governo espera.

Creio que daqui a cinco anos, expressões como: NF-e, Escrituração Contábil e Fiscal Digital e Livros Diários Eletrônicos farão parte do cotidiano de todos os profissionais da contabilidade e da natural aceitação dos empreendedores brasileiros.