[36ª ICANN 2009]

Diário ICANN Seul - por Jaime Wagner (29/10/09)


Jaime Wagner e Chuck Gomes (Council Chair da GNSO)


Ontem fui eleito representante dos ISPs (leia-se provedores e operadoras) no Conselho da GNSO da ICANN. Afora a sopa de letrinhas, isso significa que o setor privado do Brasil terá um representante no órgão onde as regras para o registro de novos gTLDs estão sendo propostas e discutidas. Anteriormente, já tivemos um brasileirono GNSO, mas representando o terceiro setor. O processo de participação é bastante "político" e envolve muita diplomacia. Toda participação é em inglês. De cara tivemos a eleição do novo coordenador do GNSO. O eleito foi Chuck Gomes da Verisign, o que ratifica uma certa captura do sistema.

Volto a repetir minha ladainha. As empresas brasileiras estão completamente à margem destas discussões que podem afetar seus interesses de muitas formas.

Por um lado, o registro de novos domínios de primeiro nível é uma oportunidade para a entrada de novos "registries". Por exemplo, poder-se-á registrar .brasil ou .terra ou .rio ou .rbs. O negócio de registro de domínios significa oportunidade de ganho, mas também traz possibilidade de perdas se o nome em questão não "pegar". Discute-se mesmo até que ponto o nome de domíno continua importante com as ferramentas de busca servindo como verdadeiro acesso lógico aos websites.

Uma coisa são os nomes genéricos com referência geográfica .brasil, .rio, que tiveram regras definidas na terceira versão da Minuta do Guia para Registro (DAG - Draft Application Guide). Esta terceira versão ainda não é a última.

Outra coisa são comunidades de interesses ou linguísticas (que não devem ser confundidos com os ccTLDs de países). Inclusive já há registries de comunidades como .cat (da Catalunha). Na América Latina, pede-se o registro de .lat, ainda sem definição.

Paralelamente, há vários outros nomes genéricos .sport, .inc, .radio, .music cujos registros estão pedidos e que aguardam a definição das discussões sobre novos gTLDs que começaram há dois anos. Os interessados acompanham muito de perto as discussões na ICANN e participam no GNSO.

Por último, há o caso das grandes marcas. As empresas brasileiras (.globo, .uol, .bradesco) devem também acompanhar estas discussões de perto. No RS, temos um caso particular: .RBS certamente gerará alguma disputa entre a Rede Brasil Sul e o Royal Bank of Scotland. Pois bem, as regras desta disputa estão sendo discutidas aqui.

Confesso que me sinto pequeno para poder compreender e bem representar tantos e múltiplos aspectos e interesses e, por isso, conclamo a comunidade empresarial a participar das delegações brasileiras às reuniões da ICANN, que ocorrem três vezes por ano. Se, de início, o assunto pode parecer distante e de difícil compreensão, a participação contínua permite uma progressiva compreensão das possibilidades de influência. Obviamente, há uma tendência a favorecer os interesses que melhor se fazem representar e, por enquanto, a América Latina está em clara desvantagem em relação aos EUA, Europa e Ásia.

A próxima reunião será em Nairobi, Kenia, na primeira semana de março.


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